Eu sempre me gabei de nunca ter conseguido fazer parte essencial de um grupo, ou de nunca ter feito parte apenas de um. O que eu preferia era não ser limitada a isto ou aquilo. Na infância, poucos amigos. Na adolescência, artilharia para todos os cantos e jeitos e interesses. Na juventude, passei a me isolar — querendo e não querendo. Mal sabia eu que neste início da fase senhoril uma definição me faria falta.

Não me especializei; pulverizei meus saberes para todos os lados. Quando se é novo, é divertido. Mas os anos passam e não é possível boiar para sempre. Pelo menos não para mim.

Abandonei a minha formação principal, entre outros motivos, por ter surgido a oportunidade de fazer o que sempre fiz de certa forma, e segui no caminho. Mas ainda pulverizante — em cada cadastro, minha profissão mudava. E fui ser freelancer em casa. A princípio, por oportunidade de descansar do mundo corporativo. Depois, por dificuldade de me integrar novamente nele. E também ao meio social, pois, ao se trabalhar sozinho, se perde o aprendizado em grupo. Aí… bom. Foi coisa de anos para que eu me percebesse. E talvez agora eu realmente faça parte de um conjunto.

Depois de alguns vários percalços e tentativas frustradíssimas de “conserto”, chego ao agora, local no tempo e no espaço em que me encontro perdida. Mas pelo menos sei mesmo que estou. E sim, isto é um expurgo; uma outra tentativa que espero que funcione de forma terapêutica.

“Angústia. sf. 1. Ansiedade intensa; AFLIÇÃO; AGONIA; 2. Sofrimento; 3. Psiq. Medo sem causa identificada; 4. Estreiteza, aperto.”

É também ter mais medo de as coisas darem certo de que elas deem errado. É não apenas temer, mas esperar o imprevisto e, assim, paralisar as ações, sejam elas grandes, sejam elas corriqueiras – como uma simples ligação para uma operadora. É o não se expressar por medo de não ser compreendido, e se arrepender por fazê-lo. É o necessitar de atenção, mas não conseguir mostrar onde ou por quê. É se esquecer dos sonhos — se sequer os teve, e também se já os realizou. É se sentir só, mas não conseguir ficar com o outro. É um vazio cheio das coisas. É sentir que não fez absolutamente nada e desvalorizar aquilo que, com bastante esforço, foi feito. É estar sempre em fuga.

Pode-se dizer que este seja o mal de uma geração? Flocos de neve que precisam ser especiais a qualquer custo, senão se desfazem? Não desdigo. Mas certamente isso não deixa o assunto menos preocupante.

Esta não é uma exposição desnecessária de quem quer biscoito — é justamente esse tipo de pensamento que nos faz não perceber o estado real em que estamos e nos impede de buscar ajuda. E a empatia, também, que não é exatamente um sentimento de piedade perante outrem, mas uma espécie de compreensão da emoção do outro; é querer colocar-se no lugar do outro, respeitando a alteridade. Por um mundo mais empático, para mim e para você. Ninguém está sozinho; nem eu, nem você.